O QUE SIGNIFICA VIVER? #002
- Jader Corrêa
- Apr 7, 2022
- 5 min read
Updated: Mar 10, 2024

COMPETIÇÃO
O planeta Terra é um organismo vivo, raríssimo no Universo. Segundo astrônomos e biólogos, a Vida só foi possível no planeta por uma rara combinação entre uma posição ideal relativa a uma estrela de tamanho ideal, o Sol, a presença de água e a fertilidade de seus materiais inorgânicos.
Muitas são as teorias a respeito de COMO a Vida começou e se desenvolveu. A mais aceita é a de que a Vida veio de fora, por meio de microorganismos presentes em meteoritos que se chocaram contra o planeta em formação. As condições ideais estavam ali, e a Natureza se encarregou do resto. E como Ela fez isso? Afinal, a primeira Lei da Natureza é a de que sem reprodução não existe espécie. Aliás, a Natureza só existe porque possui esta característica. A outra Lei é a de que TUDO que é vivo nasce, se desenvolve e fenece (não vamos tratar da Morte por enquanto, pois ela é fruto da Razão). Então, se já formulei aqui uma ideia de como a Natureza nasceu, a Ciência se encarregou de pesquisar o como ela se desenvolveu.
Nas Artes e no Design também existem leis. Relativas (porque podem ser quebradas por artistas e designers talentosos sem muito prejuízo do resultado final), mas são leis. A mais importante delas é a Lei da Proporção Áurea, a "regra de ouro" para um resultado visual eficiente em sua comunicação e agradável ao olhar. Segundo dados históricos, o arquiteto e escultor Phideas (480/430 a.C) foi o primeiro (ou o "criador") a se utilizar desta Lei para projetar o Parthenon, em Atenas (Grécia).
A Proporção Áurea é inexata, embora aproximada, no desenvolvimento dos seres orgânicos. Mesmo assim, a Teoria Fractal (ou dos Fractais), uma proposição matemática (e de design) que postula que a Proporção Áurea pode ser reproduzida ad infinitum, surgiu a partir desta Lei e consegue ser a que mais se aproxima do como a Natureza se desenvolveu. Assim, só posso denominar a aproximação da Teoria Fractal com aquela Lei com o conceito de "Teoria do Desenvolvimento da Natureza" pois, a meu ver, será um conceito que discutirá a premissa de Pitágoras (570/495 a.C.) de que "na Natureza tudo é número". Não é bem assim: são números, sem dúvida, mas jamais números inteiros, como a frase parece supor.
Estimulados pelas condições ideais - sol, água e nutrientes minerais, - e sob esta característica, digamos, fractal, os microorganismos primordiais se multiplicaram em número, tamanho e complexidade, e suas diferenças originais acabaram por proporcionar ao ambiente os dois reinos dos seres vivos: o Animal e o Vegetal.
Na Natureza, nada é número exato, mas tudo é Competição. Por espaço. Por nutrientes. Por uma mais eficiente perpetuação de sua espécie. As cadeias alimentares (ou Ciclo Alimentar) do Reino Animal nos mostram o nível de competitividade entre as espécies. Sempre é a espécie melhor adaptada a que consegue manter seus indivíduos por mais tempo na Natureza, ou seja, aquela que consegue se proteger dos predadores, seja fisicamente (caçando melhor ou fugindo melhor) ou com uma superior capacidade reprodutiva.
Já falei aqui das duas primeiras formas de competição (espaço e nutrientes, através da Atitude Somatória 01 - PODER [Liderança, Provimento, Proteção, Expertise]). A terceira é mais complexa, uma característica que trouxemos conosco quando emergimos do Caldo Primordial, que é responsável por um sem número de efeitos tanto prolíficos quanto danosos em nossa sociedade moderna.
Vou chamá-la aqui de Atitude Somatória 02 - COMPETITIVIDADE.
Antes, outro preâmbulo.
A Natureza é FÊMEA. MATRIARCAL. A Criação é FEMININA. O MACHO enquanto criador, o Deus, chegará à Sociedade por outro viés que não a Natureza, mas isso é assunto para outro capítulo.
Isto posto, pelo menos no Reino Animal, para reproduzir e perpetuar-se, o macho precisa da permissão da fêmea. Além disso, dependendo do número de fêmeas em um grupo de mesma espécie, esse indivíduo precisa COMPETIR com outros machos. Nasce, aqui, a Estratégia "Tentativa-e-erro" através da qual os indivíduos vão aprendendo o que dá certo e o que dá errado para esse processo de acasalamento. Assim, quando todos os indivíduos de uma mesma espécie aprendem o mesmo estratagema, o Instinto Competitivo ensina que em algum momento a fêmea vai se decidir, e o macho derrotado vai tentar repetir com outra fêmea aquilo que o macho vencedor fez para conseguir a permissão da primeira fêmea. Vamos chamar esse primeiro aspecto de Reprodutibilidade.
Um segundo aspecto desta Atitude Somatória é ligado a um daqueles descritos na Atitude Somatória do artigo anterior, a Liderança, que aqui chamaremos de Hierarquia, para por enquanto deixar bem setorizados os conceitos em rede que estou tentando desfiar. O (ou A) líder de um grupo de mesma espécie só é líder porque se mostrou capaz de prover e proteger. Os outros machos e fêmeas devem a ele(a) obediência (como o de comer primeiro, como no caso de certos grupos de grandes felinos). No caso dos humanos, há a expertise através da qual ele(a) e só ele(a) deve salvaguardar os conhecimentos para suas atividades e responsabilidades de líder. E há, de tempos em tempos, e melhor é dizer de ciclo em ciclo, tanto entre os humanos quanto entre os não-humanos, essa liderança é posta à prova, seja para seguir como líder, seja para ser deposto(a).
O terceiro aspecto desta Atitude Somatória é derivado da prática de "tentativa-e-erro" já descrita: o cérebro do qual são dotados todos os indivíduos vertebrados do reino animal é capaz de "reter experiências". No caso dos humanos, essa "retenção de experiências" é a expertise geradora da Memória. E esta Memória é o ingrediente principal deste aspecto, ao qual daremos o nome de Estratégia. Este aspecto se desenvolve em dois níveis, paralelos e não excludentes: a constância e a variedade. A insistência, combinada com abordagens diferentes a cada tentativa, ao longo do tempo permitiram ao animal humano a percepção de que não precisa esperar os ciclos se completarem para disputar hierarquia e liderança.
O último e não menos importante aspecto desta Atitude Somatória é a crescente compreensão, por parte do animal humano, de que é possível realizar tarefas de forma mais eficiente e menos dispendiosa de energia física ou, em palavras mais conhecidas, da Lei do Menor Esforço. Graças à impressionante capacidade adaptativa de sua mão, configurada de tal forma que o distingue de todos os cerebrados do reino animal, o animal humano percebeu que pode conseguir, com uma variedade cada vez maior de instrumentos, extensões de seu corpo que o dotam de um poder nunca antes percebido. Assim, em sua "evolução perceptiva", o animal humano foi buscando realizar suas tarefas e desafios com o menor esforço possível, observando, gerando alternativas e sobretudo aprendendo consigo mesmo. Dessa forma, daremos a este aspecto o conceito generalizante (por enquanto) de Menor Esforço.
Um resultado dúbio deste aspecto, como veremos em artigos posteriores, é o Ócio. O animal humano começou a se acostumar ao tempo livre do qual passou a dispor ao realizar suas obrigações com mais eficiência e em menos tempo. E o mais grave: começou a competir por isso. O Ócio - ou quantidade de tempo livre disponível - passou a ser símbolo de status, ou uma característica dos indivíduos mais eficientes dentro de uma sociedade. A eficiência passou a ser um atrativo a mais nos rituais de acasalamento, pois uma característica que coloca o indivíduo mais próximo da posição de liderança, mais alto na hierarquia, é sempre melhor vista em detrimento dos indivíduos menos eficientes.
Tudo correu bem, até o momento em que um indivíduo percebeu que podia fingir que era mais eficiente, chamando de seu o trabalho de outros indivíduos que não perceberam o embuste ou receberam vantagens (um cesto de frutas mais bem servido?) para não reclamar. Este indivíduo, aplicando este estratagema, deve ter conseguido chegar ao ponto mais alto da hierarquia, à posição de liderança, fazendo muito menos esforço que os demais indivíduos que mereceriam aquele posto, pois essa iniciativa, essa ideia, esse conceito, essa Estratégia foi se disseminando.
Ali estava o germe do Capitalismo.
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